*Rev. Ashbell Simonton Rédua
Quando me proponho a falar da dimensão do ministério presbiterial, neste primeiro domingo de agosto, quando celebramos na Igreja Presbiteriana do Brasil, “o dia do Presbítero”, logo vêm na mente os desafios atuais, sobretudo os desafios afetivos-sexuais, em um contexto marcado por escândalos de má conduta cristã e uma visão negativa de seu relacionamento cristão.
Conscientes disso, pretendo tratar deste tema de forma mais ampla, pois sabiamente nossa confissão reformada nos alerta para tanto outros possíveis desvios e perigos que tange a nossa dimensão eclesiástica. Vivemos num período histórico grandemente desafiador, no qual a minha querida igreja sobre as quais se firmaram gerações e gerações sofre uma crise quase sem paralelo na história no contesto da família, enquanto o divórcio era tolerado para os membros comuns apenas, hoje debatemos com presbíteros docentes vivendo segundo, terceiro e até o quarto matrimônio e este também em crise. As escolas teológicas e confessionais carecem de novas abordagens que lhes restituam sua verdadeira função de elementos estruturais na formação do homem pós-moderno. A cultura religiosa pós-moderna, da religiosidade popular, da influência musical gospel, da liturgia aberta e liberal, da insersão de novas técnicas de comunicação na substituição da pregação expositiva, tais como corinhografia, coreografia, danças rítmicas e shows evangélicos. A ampla comercialização das diversas propostas espirituais, tais como : “Igrejas com propósitos”, “Igrejas sem propósitos”, “Células”, “G12”, “Igrejas de Relacionamentos”, “Igrejas Interdenominacionais (não sou de ninguém e todo mundo é meu também)”. São oferecidos roteiros espirituais baratos, que prometem um bem-estar imediato, fácil e a qualquer hora do dia e da noite (Igrejas 24 horas), haja vista que o mundo pós-moderno não acolhe facilmente percursos árduos, penosos, de despojamento, contudo busca e persiste a fome de algo autêntico e verdadeiso, mas sem a disponibilidade de passar por um caminho duro e comprometido (escrevo aqui de crentes de horas e locais marcados).
Assim penso que os presbíteros como guias e protetores do rebanho devam ter algumas características:
1. O Presbítero deve ser discípulo e discipulador. A questão do discipulado e do discipulador deve envolver inteiramente a vida do presbítero, levando em conta a sua maturidade cristã e humana, resultando na capacidade de desenvolver a difícil tarefa de ser discípulo. Aquele que é capaz de ouvir os outros e sobretudo o “outro”, este é capaz de levar as Boas Novas da Salvação aos outros, não por palavras, mas especialmente pelo testemunho de uma vida integra e fiel ao Senhor
2. O Presbítero deve ser capaz de conhecer em profundidade a alma humana, intuir dificuldades, ser um facilitador no relacionamento e no diálogo com outro, obter confiança e colaboração, exprimir juízos seremos e objetivos. É necessário o cultivo de uma série de qualidades humanas necessárias à construção da personalidade pastoral, tais como equilíbrio, fortaleza, liberdade, amor à verdade, lealdade, respeito pela pessoa de cada um, sentido de justiça, fidelidade à palavra dada, coerência e capacidade de suportar o peso das responsabilidades presbiteriais.
3. Os Presbíteros devem ter o seu próprio modus vivendi. Como qualquer outra pessoa, os presbíteros sofrem condicionamentos das mudanças culturais da pós-modernidade. Num processo dramático de desconstrução e reconstrução, alguns presbíteros transformam suas concepções de família, relações afetivas, a maneira de se vestir, do ato sexual, comportamento, hábitos em tendências ou possibilidade quando não como realidade. Algumas reinvidicações nos quais destaco a opção pelos grupos minoritários, discriminados, a emancipação da mulher (debates sobre diaconisa, presbíteras e pastoras), a liberação da sexualidade e do prazer (poucos se aventuram a falar com os casais da igreja sobre sexo e suas formas desvirtuadas, o direito ao orgasmo, o homossexualismo), o divórcio, a relativização da virgindade, a rediscussão da fidelidade conjugal. É certo que a onda individualista alastrou na sociedade cristã e contaminou os presbíteros, que preferem viver sua vida num relacionamento com os concílios da igreja muito diferente daquele surgido no nascedouro do cristianismo.
Por muito tempo, na Igreja, quando se tentava enfrentar essas questões em relação aos presbíteros, projetavam-se modelos idealizados de presbíteros, que mais se adequavam às necessidades institucionais, mas não respondiam ao desafio da originalidade de cada um. Nas últimas décadas, essas questões passaram a incomodar muito mais inúmeros presbíteros, que procuravam articular sua realização pessoal às reais necessidades da Igreja. Na perspectiva conciliar, a identidade do presbítero passa em sua definição pela comunhão dos presbíteros entre si e com o pastor no serviço à comunidade;. Hoje, porém, muito se perdeu dessa perspectiva e se retoma a questão da identidade presbiteral numa ótica muito mais subjetiva, do direito de cada um ser
feliz.
Precisamos prestar atenção a alguns sintomas, dentre os quais os momentos de dúvida, quando é posta em discussão a própria identidade e a própria vocação, o próprio papel, o modo de desempenhar o ministério presbiterial. Este é o aspecto mais evidente. Depois a dúvida pode ficar mais ampla e envolver mais em geral o aspecto institucional, a Igreja na qual se exerce o ministério, a época em que vivemos. Ao lado disso, há sintomas que dizem respeito à estrutura cotidiana da vida: podem ser momentos de excessivo cansaço, fraqueza existencial, momentos latentes ou não de depressão; ou o excesso de trabalho, a procura obsessiva de atividades que parecem justificar a própria existência, a fuga de todo espaço vazio ou sossegado de silêncio e de reflexão.
Este último sintoma; o excesso de trabalho; é hoje muito difundido;. Parece que uma pessoa só se sente valorizada quando pode ostentar uma agenda cheia, e não quando usa o tempo para aprender a contemplar, a fazer intervalos de introspecção, até mesmo para saber avaliar com alegria os passos dados na missão.
4. É bom lembrar que antes de ser presbítero é preciso ser cristão e antes de ser cristão, ser humano. Somente sobre fundamentos sólidos humanos se pode edificar o verdadeiro presbítero, pois este deverá ter condições de colocar a totalidade de sua vida sob o dinamismo do Espírito Santo. A capacidade de tomar decisão, de assumir a vida nas próprias mãos, confiando na presença permanente de Deus, faz parte do dinamismo do processo de maturação humana. Esta é construída a partir da tomada de posição pessoal e do relacionamento com os outros, na base do diálogo e do compartir a vida com os demais.
Por outro lado, esse processo, não pode ser tão indefinido, pois ele tem responsabilidades inadiáveis no exercício do ministério. Para isso, ele contará com a graça de seu estado ministerial e deverá estar aberto para, em comunhão com os irmãos de presbiterato e com os leigos com quem trabalha pastoralmente.
Conclusão: O presbítero deverá ter um senso profundo de realismo em relação a si mesmo, suas ambigüidades e potencialidades, e com a realidade que o cerca. Conhecer-se é fundamental no processo de auto-aceitação em vista da maturidade humana e espiritual. Só aplicamos a medicina correta quando detectamos com precisão onde estão nossos pontos fracos. Nada mais prejudicial nesse ponto do que a camuflagem do que se é, verdadeira e profundamente. Deixar aflorar o que somos, com nossas emoções e sentimentos, para resgatar tudo o que nos edifica e trabalhar o que nos destrói. A não-repressão do que se sente traz consigo a possibilidade de superação do que é negativo na pessoa e de redimensionamento das aspirações de um eu-ideal distanciado do que a pessoa realmente sente e quer, isto é, de seu eu-ideal. Podemos dizer que levamos essa riqueza de vida, contida na experiência dos presbíteros, parafraseando o apóstolo dos gentios, em vasos de barro, só assim os Presbíteros serão guias e protetores do rebanho.
Em homenagem aos Presbíteros da IPB/ 1º domingo de agosto de 2007, este é o vosso dia.
Soli Deo Glória
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