22 abril 2007

ESTOU FAZENDO A MINHA PARTE



*Rev. Ashbell Simonton Rédua
Esta é um argumento que ouvimos quase que diariamente, estou fazendo a minha parte.
Conta-se que ocorreu um incêndio em uma floresta. Todos os animais se afastaram velozmente do foco do incêndio; mas um Beija-Flor vinha em sentido contrário, trazendo no bico uma gota d’água. Os que fugiam lhe perguntaram para que serviria aquela gota d’água... Ele respondeu que era para ajudar a apagar o fogo. Os outros acharam graça e tentaram mostrar ao Beija-Flor que aquilo era impossível, mas ele exclamou “apenas estou fazendo a minha parte!”.
Quando relaciono este tema a vida eclesiástica ou mesmo na vida social brasileira, sinto um ar de individualismo e indiferença com relação a tudo que podemos fazer com seriedade e não fazemos, apenas faço a minha parte.
A nossa vida eclesiástica é uma religião de individualismo, que, ajunta o maior número de seguidores, quando ajunta, nos quais cada um individualmente defende seu ponto de vista frente aos outros com discursos divorciados dos ensinos das Escrituras Sagradas, acendendo um vela para Deus e outra para o Diabo.
“Esta doutrina põe sua ênfase sobre as ações e vontades do indivíduo em detrimento do grupo. Nada mais verdadeiro do que o que ocorre com a sociedade moderna.
Do ponto de vista filosófico, o individualismo salienta a pessoa, valoriza o indivíduo, e o aponta como a realidade mais essencial de todas as coisas, aquilo que se deve, sobretudo, valorizar, mostrando que o indivíduo é o valor mais elevado.
Ainda nesta linha de abordagem filosófica, o individualismo como doutrina procura explicar os fenômenos de qualquer categoria, sejam eles históricos ou sociais, à partir de pressupostos que mostram ações deliberadas de indivíduos em busca de sua concretização. Assim, para seus seguidores, a sociedade deve ter como objetivo principal, senão único, promover o bem, a satisfação de cada indivíduo que a compõe.
A doutrina do individualismo se expandiu de tal forma que contaminou o cristianismo, gerando uma sub-cultura cristã individualista que prega o relacionamento do indivíduo com Deus, numa busca piedosa, devocional, quase monástica, como o caminho da realização. Ela descarta qualquer ênfase social do Evangelho; desvalorizando a dimensão comunitária como algo de valor que deva ser buscada pelos cristãos.”
[1]
Tenho a impressão que quando alguém esta fazendo a minha parte, esta apenas indo a Igreja, participando de alguma atividade, seja ela coral ou um grupo musical, professor de EBD, pregação, canto, visitas, mas é apenas máscara do verdadeiro problema da irresponsabilidade cristã, falta de propósito. de viver o que realmente precisamos viver como Igreja do Senhor Jesus Cristo. “Tornamo-nos consumidores religiosos com todos os direitos que um consumidor tem. Ao invés de ser bênção, queremos receber bênçãos; usamos a igreja, a família e a sociedade para alimentar nossas ambições. Não somos mais agentes de transformação; viramos espectadores ingratos e exigentes. Ao invés de promover a prosperidade social, transformamo-nos em parasitas sociais, querendo cada vez mais e melhor para nós e não para os outros.”[2] Estou apenas fazendo a minha parte.
Essa forma de pensar nos empurra para o mundão porque a opção pessoal do estou fazer a minha parte, se incorpora do valor fundamental defendido pelo individualismo liberal, manifestando-se na sua máxima expressão ao transformar o fiel em consumidor. Ser fiel, de qualquer denominação religiosa, teria como princípio estar ligado a uma série de valores éticos, acreditar no sentido da vida, da felicidade, do além, na explicação última da existência humana, etc.. No mercado religioso, ao ser o fiel transformado em consumidor de bens religiosos, deixa de ser um crente ou fiel de uma instituição e de seus princípios, para se transformar num mero consumidor da religião, satisfazendo suas necessidades pessoais do tipo emocional, existencial ou econômico.
Estou fazendo a minha parte, estou fazendo o possível. Vou tentar ser um crente honesto, zeloso, dizimista e trabalhador para contribuir com a minha igreja.
Penso que não basta fazer a minha parte, ela não muda nada, não modifica a situação, não tem força contra as estruturas já estabelecidas.
Qual o poder de estou fazendo a minha parte contra o dono da Igreja, contra um grupo que açambarca em seu convívio a corrupção, a maledicência e as falcatruas que são desconhecidas pela Igreja e que são jogadas na mídia nacional. Não, ainda não temos forças e estruturas para lutar sozinhos, ser um “Rambo Religioso” capaz de resolver os problemas da igreja sozinho.
Preciso de comunhão que capacita-nos a estar em contato com Deus e com os homens. Comunhão que não está separada da vida; em vez disso, ela própria se traduz como a nossa própria vida. Sempre que não a seguimos ou que não nos submetamos a ela, ela para de fluir. Deste modo a comunhão entre nós e Deus é interrompida, e a comunhão entre nós e os santos também se vai. “É possível que você já tenha se perguntado sobre a relevância da fé em Deus, ou da Igreja para os dias de hoje, muitos continuam perguntando, dentro e fora do contexto cristão, e as respostas têm sido as mais variadas. Esta também é minha pergunta neste texto.
Estamos vivendo um momento repleto de possibilidades e riscos, onde começamos a fazer uma avaliação da nossa forma de ver e pensar o mundo. Este processo tem sido chamado de Pós-Modernidade, onde pouco a pouco vamos descobrindo que não estamos no controle de tudo, como imagina a mente moderna.”
[3]
Não basta apenas fazer a minha parte!...
Soli Deo Glória

[1]Soares, Josué Ebenézer de Sousa. FAMÍLIA 7 - A Família e o Avanço do Individualismo. Fonte: www.WebArtigos.com, Disponível em 22.04.2007
[2] Souza, Ricardo Barbosa. Aprenda a ser uma benção na vida dos outros. http://www.jornalasemana.com, disponível em 22.04.2007
[3] Machado, Ziel Jorge Oliveira. Desafios Contemporâneos ao Cristianismo. http://www.abub.org.br/1recursos/ziel%20machado.htm. Disponível em 22.04.2007


*Rev. Ashbell Simonton Rédua – Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbitério do Norte (Recife-PE), em 1989, Bacharel em Teologia com Especialização em Capelania, pelo Seminário Teológico Evangélico do Nordeste (Recife-PE), 1990, Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo (2006), Especialização em Bíblia pelo Centro de Pos-Graduação Andrew Jumper, Graduando em Direito pela Centro Universitário Plínio Leite, e Especializando em Direito Ambiental pela Universidade Gama Filho

13 abril 2007

O PASTOR E A OPINIÃO PÚBLICA DA IGREJA LOCAL

Você já percebeu que somos dirigidos pela opinião pública, não a nossa particular, não aquilo que pensamos de nós mesmos, mas a opinião as pessoas fazem de nós.
O pastor é um homem público, homem público é aquele que lida com uma sociedade, particularmente a comunidade religiosa local, regional ou quiçá a nacional, isto vai depender do seu campo de atuação pastoral.
Mas o que é a opinião pública da comunidade local?
Opinião pública local é o que geralmente se atribui à opinião geral de uma igreja local. Quando se diz, por exemplo: "A opinião pública da igreja local está pressionando o pastor", significa dizer que um conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes, idéias e que interagem entre si constituindo uma comunidade, a igreja
, expressa uma posição de pressão ao pastor e ao seu ministério. Neste caso podemos afirmar que o pastor também vive em função da opinião que as suas ovelhas estão pronunciando entre si a seu respeito.
É comum ouvirmos afirmações sobre pastores de outras comunidades, e geralmente estas opiniões não entristece tanto, mas quando nós somos os alvos destas opiniões, as nossas emoções tomam rumos diversos.
Quando uma comunidade local abre o processo de eleição pastoral isto torna-se mais evidente, as opiniões tomam dimensões as vezes causando danos irreparáveis. Danos irreparáveis são aqueles que não podem ser reversíveis (instabilidade emocional, pressão alta, disfunção metabólica, perca do apetite, etc).
Pode ser mera coincidência. Mas pode não ser. Tomando as últimas pesquisas de opinião, não há nada de surpreendente quando a Igreja caminha e pensa como pensa a nação. Quando uma instituição faz um pronunciamento com relação ao governo da sua rejeitabilidade ou não, o mesmo acontece na Igreja, com as mesmas características e os mesmos princípios.
A pesquisa de opinião divide a comunidade local, fazendo acepções de pessoas, isto é, os pastores são avaliados pelas perspectivas meramente humanas, principalmente relacionais, e dificilmente são evidenciado as qualidades de um servo de Deus, aquelas que estão elencadas em Timóteo e Tito. Não se dá credibilidade as horas de estudos do pastor, ah! para alguns isto é perda de tempo, comodidade. Oração, este também não tem sido levado em consideração, púlpito, nem se fala.
Todos aqueles que tem lutado para mudar a política eclesiástica e preservar o pastor das críticas acabam se desiludindo com a igreja e afastando dela. Do contrário, a política eclesiástica só pode mudar com um impeachment do pastor ou do conselho. Como nenhuma dessas coisas estão na nossa perspectiva, temos de apostar na possibilidade do pastor mudar e mais fácil do que o conselho mudar. Por isso, alguns preservam a sua vida e o seu ministério.
A opinião publica da igreja faz do pastor uma vítima, julga-o e condena-o. “Lamentável que com todas as lições da história, a "opinião pública" a igreja continue a acusar, julgar e condenar seus guias que a lei presume inocentes. Continuam a ganhar foros de justiça, essa manifestação irracional dos sentimentos de ocasião. A "opinião pública" permanece substituindo as leis e aos nossos concílios. É preciso levantar entre o culpado e os ardores da "opinião pública" uma barreira. Barreira que se identifica com a figura do bom crítico.”
[1]
A opinião pública religiosa, levou Jesus à Cruz, e hoje ela tem destruido muitos pastores e ministérios abençoados. Porém quando Jesus teve a oportunidade de expressar a sua opinião pública, rejeitou-a.
Quando foi apresentado a Jesus “a mulher adúltera”, os acusadores eram os conhecedores da legislação, que queriam a condenação para cumprimento da Lei inflexível.”
[2] Eram politicamente corretos. “Todavia, quando questionados sobre sua própria "ética" (não especificamente sobre a prática de adultério, mas sobre o cometimento de imoralidades em geral - "quem estiver sem pecado"), sentiram-se sem condições de insistir na acusação.”[3]
Devemos entender que a Igreja está acima da opinião pública, contribuindo para a estruturação de uma visão coletiva e comunitária.
A autenticidade da igreja não é movida pela opinião pública mas pela obediência e pela fé. Quanto mais vasto é o número dos crentes que aceitam a Igreja como comunidade unida, mais espontânea é a sua visão comunitária da verdade, inspiradora de comportamentos fazedores da história.
O enfraquecimento desta dimensão institucional da verdade, dá prioridade à pluralidade das diversas visões, ás correntes de pensamento, às modas de opinião. A “opinião pública” dilui-se, só captável por somatórios estatísticos de maneiras individuais de pensar, o que favorece o surgir de novas formas de dogmatismos de elites ideológicas ou outras, que têm tendência a impor as “verdades oficiais”, incapazes de integrar num dinamismo comunitário a vivência pessoal da verdade. Quando a Igreja deixa de ser a comunidade da verdade, sal e luz, o seu ministério é reduzido ao nível da opinião, perdendo a sua força inspiradora da evangelização e motivadora dos processos históricos.
Este é um fenômeno preocupante na mutação atual das igrejas locais. Dilui-se, progressivamente, a importância de um quadro culturalmente evangelístico, necessariamente plural, como força unificadora da história, o que origina o pragmatismo eficaz como objetivo e principal expressão. Nunca a igreja teve-se tão consciente de um direito fundamental da pessoa humana, a liberdade de pensamento e de opinião, mas perde-se, progressivamente, a perspectiva de pensar em comunidade, pois em nenhuma dimensão essencial do ser humano o individualismo pode ser a regra. Mas a multiplicidade das formas de pensar influencia muito relativamente a conduta religiosa, pois dificilmente traz crescimento e não há igreja sem crescimento.
Sempre ouço a “opinião pública” do meu rebanho, e algumas são motivadoras de desânimo, de tristeza e angústias, que incapacita-me a fazer mais do que posso, como alguns colegas de ministério tem compartilhado: “Simonton, as vezes tenho a vontade de chutar o pau da barraca”. Creio que o Senhor Jesus Cristo, humanamente pensando, o Apóstolo Paulo, tiveram também este mesmo sentimento, mas não fizeram, por amor a igreja. Cristo amou-a até o fim e deu a Sua vida por ela, Paulo igualmente, e nós também, porque não há como fugir do chamado vocacional de Deus para este tremendo ministério.
A minha maior preocupação fixa-se na necessidade de mudança da visão eclesiástica na qual impulsiona a agradar os homens e desagradar à Deus. Não importa a opinião que a Igreja faz de você, o que importa é a fidelidade à Deus, acima de todas as coisas, a consciência limpa de que não me dobrarei aos caprichos humanos e amei a igreja até o fim.
Soli Deo Glória.


[1] Moura, Sanderson. A "opinião pública", a justiça e o bom juiz!. http://www.ufac.br/informativos/ufac_imprensa/2005/04abr_2005/artigo2005.html, acessado em 12.04.2007.
[2] Marques, Luiz Guilherme. O "julgamento" da mulher adúltera e a humanização
[3] Idem, Ibidem.

04 abril 2007

O SEPULCRO VAZIO



Texto: Jo 20: 1-9

O Sepulcro vazio tem sido alvo de muitos debates, principalmente por aqueles que não crêem na ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Basicamente estamos acostumados a escutar os teólogos e Mestres Cristãos falando sobre o assunto e afirmando-o como base da nossa fé. Mas, nesse caso, por que os judeus não se tornaram cristãos? Será que a ressurreição de Cristo polarizou a humanidade entre aqueles que crê e os que não crê neste evento. Será que existe dentro do cristianismo estes dois grupos que estão separados ante o evento da ressurreição, um que reflete a atitude do discípulo amado, que viu e creu. E um outro, como Pedro, que ficou maravilhado com o acontecido, mas sem chegar às portas da fé? Qual foi, em definitivo, a causa que também mudou a atitude de Pedro até a fé? Somente a disposição dos panos, unicamente a ausência do cadáver? Será que a pedra de entrada, removida de forma abrupta?
Acreditamos que existe uma experiência que não podemos chamar de histórica porque é íntima e não compartilhada de forma sensível por todos como testemunhas. É a experiência mística da visão sobrenatural, nem por isso menos real e vívida que a experimentada pelos sentidos. Pelo contrário, deixa uma memória tanto menos extinguível quanto mais extraordinária e infreqϋente como ela é. Logicamente quem de antemão descarta o sobrenatural, tenderá a explicar o fenômeno em termos naturais de paranóia e histeria. Mas quando a visão é coletiva, e mais, quando responde a situações diferentes, com pessoas entre si independentes, como é o nosso caso, a explicação natural não é suficiente e constitui o único recurso de quem não quer admitir o sobrenatural. Têm ouvidos e não ouvem, têm olhos e não vêem (Mc 8: 18).
Cremos que as bases da ressurreição foram as experiências místicas dos discípulos que as tornaram testemunhas (Lc 1:2) de que Jesus Vivo é o Senhor. É o caso de Paulo que nem viu o túmulo, nem conhecia Jesus como os outros discípulos; mas que o viu e ouviu em Damasco (At 9: 4-7).
A ressurreição é a única explicação plausível para seu túmulo vazio.
O Evangelho de João anuncia a ressurreição de Jesus Cristo no primeiro dia da semana. Primeiro significa começo, início; a ressurreição é, portanto, o começo, o início de uma maneira nova de viver; ela é fato que acontece com o começo de um novo período de vida, portanto, traz uma perspectiva de começar de novo, de partir para algo novo. E este algo novo é iluminado pela vida nova que a ressurreição do Senhor traz e garante para os que querem segui-lo.
O que importa é o estar o túmulo vazio e, ao mesmo tempo, estar arrumado. O que importa é que a comunidade dos discípulos, representada pela mulher e pelos dois homens, acreditou na vida que o Deus ressurreto trouxe e traz!
E nós também cremos.
Aleluia! Jesus Vivo está!