22 fevereiro 2007

Ambição Pastoral e Movimentos Modernos – Uma Parceria Perigosa

Rev Ashbell Simonton Rédua[1]

Há alguns anos através exercendo a relatória da Comissão de Doutrina de um dos concílios da IPB, deparamos com muitas reclamações e questionamento a respeito da estratégia denominada “Igrejas em Células”. Aquele período foi tremendo na minha vida. Após o Presbitério perder a maior igreja com todos os seus bens, tivemos de enfrentar a justiça civil para recuperar estes bens para a IPB. Ao final do processo, a Igreja estava desfalecida, desiludida, ferida por toda aquela situação que havia passado.
O tempo passou e apesar de muito decepcionado com o que se tornou nossa estrutura denominacional, sou PRESBITERIANO e zeloso na doutrina e convicto de nossos princípios os quais foram defendidos por nossos antepassados que morreram por defendendo nossos princípios de liberdade, democracia e autonomia. Alguns chamam isso de radicalismo, fundamentalismo ou qualquer outra coisa, mas creio que esses não conhecem nossa história, nem mesmo sabem porque são presbiterianos. Devemos saber o porquê de sermos presbiterianos e o porquê de não pertencermos a um outro grupo qualquer.
Meu zelo doutrinário não se mistura com preferência litúrgica, estilo de culto, com movimentos modernos (marcha para Jesus, Manifestação Social Religiosa, G12...) com flouxidão disciplinar.
Quando a doutrina é mudada também a Liturgia, o estilo de culto, o tipo de música, também são. Se caminham com a cultura do povo, nunca mais será uma igreja sólida, firme e comprometida com os princípios reformados.
Após iniciar o pastorado na Igreja Presbiteriana do Sinai, me deparei com a necessidade urgente de crescimento. Lembro-me apresentei um grande projeto, muito bem elaborado, perfeito, porém não funcionou. Mais tarde tendei alguns projetos de evangelização, envolvimento da igreja com missões, Igreja nas casas (não células), evangelização nas ruas, também não. Abrimos a visão para o envolvimento em projetos sociais. Inútil. Houve envolvimento da Igreja em oração e estudo Bíblico visando o crescimento, operação André, etc. Mas tem um movimento que chamou-nos atenção “40 dias com propósitos”, é, ficou apenas nos 40 dias. Hoje temos o movimento “Igrejas com propósitos”, será que este veio substituir a Igreja em Células que substituiu o G12.
Este ano nossa ênfase é na doutrina, resgatar a doutrina, estamos estudando na EBD o Catecismo de Westminster, O Panorama do Antigo e Novo Testamento e nas 5ª feiras a Confissão de Fé. Os crentes antigos avivaram as memórias daquilo que outrora aprenderam e os novos obterão novos ensinamentos.
Somos guiados por uma igreja que exige resultados e somos conhecidos se há resultados. E esses resultados tem de ser visíveis em todos os campos, mas principalmente no campo financeiro, crescimento número da membrezia. Se isto não acontece estamos desqualificado como servos do Senhor. Que padrão chulé!!
Tenho ouvido nossos pastores afirmarem:
“...Este tipo de ministério não está nos meus planos... estamos indo em direção a outro propósito!”
ou
“...esse ministério não se encaixa em ‘nossos’ propósitos”
ou
“... escola bíblica dominical é invenção de americano, ela não tem lugar na ‘igreja moderna com propósito’”
ou ainda,
“sociedade feminina era para uma estrutura tradicional... isto não funciona mais”,
ou
“a UPH está falida”
e ainda mais
“projetos de evangelismo são ineficientes... o evangelismo vai ser feito naturalmente nas células... o evangelismo deve ser feito somente com pessoas de seu convívio pessoal diário”.

Existem pastores apressados em acabar com EBD, sociedade feminina, grupos de evangelismo pessoal, etc. Tenho pena dessas pessoas. Elas não conhecem nem suas raízes históricas, por isso é fácil destruir aquilo de que não é parte. Se há um grupo entre nós presbiterianos que fez e tem feito uma grande obra, é a Sociedade Auxiliadora Femininas, “mulheres que surpreendem”. Às vezes chego a pensar que Deus ainda preserva nossa Igreja (ainda que cheia de erros, intrigas, política, escândalos, etc.) por amor dessas irmãs e de sua dedicação e sinceridade. Aproveito até para advertir tais pastores que atacar este ministério pode ser um risco muito grande para eles.
A EBD bem feita e com bom material é uma bênção. Sou membro titular da Junta de Educação Teológica da IPB, acostumado a conversar teologia e freqüentar nossos seminários de teologia, mas me sinto à vontade em discutir temas bíblicos diversos na EBD. Vivo no meio de ateus em ambientes acadêmicos, mas estou sempre pronto a responder sobre as razões da minha fé... aprendi isto em casa com meus pais e na EBD. Uma das razões no meu crescimento no conhecimento do Senhor Jesus Cristo se deu na EBD
Com relação a disciplina tenho ouvido pastores afirmar:
“Temos que ser tolerantes em algumas questões doutrinárias...”
ou
“unidade na adversidade”
ou ainda
“aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos separa”:

Abrir mão do doutrinamento e dos ensinos dos apóstolos para manter pessoas de todos os tipos na igreja está longe de ser um modelo ideal. Uma construção sem alicerce está fadada ao desastre.
Não existe discipulado sem doutrinamento. O bom doutrinamento preserva o crente. O crente fica firme e enraizado, pronto para resistir aos ventos doutrinários. Nem nossos líderes denominacionais parecem entender isso. Não pode haver comunhão sem que haja o mesmo espírito e o mesmo pensamento. Como poderemos nos unir a igrejas renovadas se aqueles irmãos entendem que se não manifestamos algum efeito especial cinematográfico não possuímos o Espírito Santo?

“Temos que nos fazer de tudo para ganhar alguns...”.

O contexto de I Coríntios 9 está longe do convite ao estimulo à conformidade com o mundo. Para tornar a igreja mais atrativa (com a desculpa de "fazer-se fraco para os fracos...") igrejas vêm adotando festividades pagãs, práticas mundanas e fazendo vistas grossas ao pecado do crente. I Cor.9.20 – “Procedi, para com os Judeus, como Judeu, a fim de ganhar os Judeus...”. No entanto, quando Paulo precisava combater o erro dos judeus ele não poupava esforços (Gálatas 5.2). I Cor.. 9.22 – “Fiz-me fraco para com os fracos...”. No entanto não poupou os fracos e carnais crentes de Corinto de suas repreensões cheias de autoridade e fundamentadas com os ensinamentos de Cristo. Certamente se o Apóstolo Paulo estivesse vivo hoje, ele não poderia pregar em muitas de nossas igrejas... ele seria “muito radical” na visão de muitos. Da mesma forma, ele não conseguiria um cargo de liderança em nossa denominação, afinal de
contas, nossos “lemas denominacionais” seriam duramente combatidos por ele.

Atualmente em uma sucessão pastoral a filosofia usada é a seguinte: “denigro o ministério do outro para que o meu pareça melhor”. Tentar destruir o que foi feito no passado é errado, desonesto e covarde. Alguns pastores dedicam minutos preciosos de seus sermões e estudos para falar que determinados pastores, a maioria já falecida, não sabiam como fazer seu trabalho de pastoreio ou evangelismo. Em seguida, começam a levantar problemas e a avaliar numericamente seus resultados sem saber de suas lutas, perseguições e do contexto daqueles tempos passados. Isto ouvi a poucos dias de um Presbítero: “por causa do pastor fulano de tal o número de membros caiu e consequentemente a arrecadação financeira”. Trabalhar em prol da saída de tais pessoas do convívio e da comunhão da igreja, provocando o entristecimento profundo de tais irmãos, apagando suas alegrias do convívio com igreja, fazendo manobras para desmoralizá-los perante a igreja, promovendo situações constrangedoras, fomentando facções, denegrindo suas imagens, transformando a igreja em um lugar desagradável para eles, etc., não é a atitude de um homem separado para PASTOREAR ovelhas. O pastor deixa de levar as ovelhas a pastos verdejantes e começa a dar ração amarga. Criar dissensão (semear contenda entre os irmãos) é abominável perante Deus (Provérbios 6.16-19). Tais homens foram chamados para pastorear ou para matar ovelhas? Digo
isto pois estou assistindo exatamente isto acontecer em três grandes igrejas nossas.
Concluo exortando-o querido pastor: pastor tenha cuidado. Seu desejo de sucesso e crescimento pode estar acima do amor pelas almas as quais Deus separou para pastoreardes e apascentardes.
A igreja é um lugar de recarregamento de forças e não um lugar onde entramos e saímos deprimidos e desmotivados. Se o pastor não está agindo bem, ou se alguém tem problemas com ele, tente conversar. Seja sincero. Se isto não adiantar, o crente deve ir para outra igreja. Tenho dito: “não crie problemas e não se engaje em insurreições. Você pode cometer injustiças e Deus vai cobrar de você. Saia e deixe Deus cuidar do Pastor”. Deus tem feito isto.
Minha análise geral é que passamos por momentos difíceis. Os tempos são verdadeiramente maus. Vivemos tempos em que o servo é tentado a buscar um destaque dentro da denominação através de cargos e política, derrubando quem estiver em seu caminho. Seja fiel...lembra-te querido pastor do compromisso da ordenação, fidelidade aos princípios da Igreja Presbiteriana do Brasil, ao Ministério e acima de tudo à Deus.
Deus honra os seus escolhidos e os capacita para o Ministério.
Soli Deo Glória

Texto adaptado: Ferreira, Doneivan. Igrejas em Células e Pastores Ambiciosos- Uma Mistura Perigosa.
http://www.ibcambui.org.br/artigos/art48.pdf

[1] Rev. Ashbell Simonton Rédua, é pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai, Secretário Executivo do Sínodo Leste Fluminense e membro da Junta de Educação Teológica da IPB, há agora é vovô também.

17 fevereiro 2007

PLANEJAMENTO ECLESIÁSTICO


Este ano ao iniciarmos o planejamento eclesiástico buscamos alguns princípios necessários para não cairmos no pragmatismo e no ativismo, duas correntes que tem destruído a dinâmica da Igreja. A Educação Teológica poderá ser um bom tema, mas há outras áreas também necessário na vida da Igreja.
Além da espiritualidade, dos princípios Bíblicos, teológicos, hermenêuticos e da Fé Reformada, algo me chamou atenção: “O bambu chinês”
O bambu chinês depois de ser plantado, pode trazer um desânimo sobre o agricultor, porque não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um pequenino broto a partir do bulbo.
Durante 5 anos, todo o crescimento é invisível a olho nu, é subterrâneo, porém ele desenvolve uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se este verticalmente pela terra para sustentar o que virá finalmente na horizontalidade. Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.
Quando penso na Igreja que pastoreio, penso no bambu chinês, que me ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos. Em nosso trabalho pastoral e eclesiástico especificamente, que é um projeto fabuloso, que envolve mudanças de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilidade, devemos sempre lembrar do bambu chinês para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.
Na elaboração do meu projeto estratégico sigo três fases:


1ª fase - Definir a Filosofia do nosso grupo
Defino a filosofia e analiso o cenário no qual a igreja local está inserida e de forma que posso implantar e controlar as suas ações neste contexto comunitário. Assim preciso definir uma filosofia de trabalho: “a filosofia de vida da igreja e de seus membros são seus valores, princípios e visão de futuro – o que esperamos alcançar a médio e longo prazo e como fazer pra chegar lá”.
2 ª fase - A análise de Cenário
A análise de cenário, inicia-se quando o objetivo é definido. “Você realiza uma análise geral de cenário, tanto da parte interna – os recursos e talentos da igreja – como no ambiente externo – como aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos da comunidade”. Com essas informações, terá um ótimo mapeamento para guiar as ações.


3 ª fase - Monitoramento do Trabalho Planejado
Após a análise da filosofia, dos valores, e dos princípios, há um plano de ação que deve ser monitorado. Com esses três aspectos, há um planejamento estratégico completo.
No entanto, alguns cuidados devem ser tomados durante esse processo:
1º) O primeiro é que o planejamento é compartilhado desde a criação:
Não pode ser imposto de cima para baixo. Se alguém não sentir que faz parte das tomadas de decisões, que aquele sonho não é seu, não adianta. A possibilidade de dar errado é maior. O planejamento deve ser compartilhado, deve ser construído por todos, pelas principais lideranças, por aqueles que têm envolvimento e por aqueles que têm o desejo de participar.


2º) Além disso, deve-se embasar o planejamento em bons valores:
A estratégia depende dos valores em que está fundamentada. Na igreja que pastoreio, depois de 3 anos, já conheço um pouco dos valores locais, tanto da igreja como da comunidade em si. E nos processos de mudança e adaptação são incluídos outros valores, como os valores da Reforma (seus princípios), do conhecimento Bíblico, da evangelização, da comunhão e do louvor.


3º) O monitoramento do Planejamento tem que receber atenção especial:
Após o início do trabalho a tendência é deixar que as coisas corram a vontade. Assim não há efetividade, porque muitos planos são bonitos, mas depois não há monitoramento, não há indicadores para monitorar se está no caminho certo. Isso é uma característica dos pastores brasileiro, nós precisamos acompanhar e supervisionar para alcançar o sucesso.

Conclusão
A cultura do planejamento ainda não é uma realidade em toda igreja, mas a cada dia ganha espaço. Esta mudança pode ser acelerada por atitudes como troca de experiências entre líderes e liderados, capacitação de liderança e valorização da comunicação interna da igreja, coisas que permitirão uma maior interação de cada membro das sociedades e departamentos internos da Igreja.